MINAS NOVAS –
UM EXEMPLAR RARO DE GEMA MINERALÓGICA
Minas Novas - pedra rara, talvez um diamante de tamanho impar, de beleza insuperável e de valor incalculável.
Na literatura mineralógica ha a referencia do termo “minas novas” como uma espécie de gema desaparecida, isto é, variedade mineral exaurida e extinta no meio natural. Os exemplares raros -- dos quais se tem vagas noticias -- possivelmente estão entesourados, não catalogados ou ainda guardados a sete chaves em poder de colecionadores e museus.
O termo se refere, também, aos novos descobertos de veios auríferos na região do rio Fanado (Tamboá), cujas ocorrências se verificaram no século XVIII, logo após a decadência das “lavras velhas” ou “minas velhas”, referência às regiões de Ouro Preto, Mariana, Sabará, Raposos, Caeté, Congonhas, Santa Barbara e outras.
As pedrarias sempre foram muito valorizadas, no entanto era o ouro o mineral mais cobiçado pelos colonizadores, pois ate mesmo os diamantes eram desconhecidos no Brasil, ate quando foram reconhecidos, acidentalmente, no antigo arraial do Tejuco (hoje Diamantina) onde as referidas pedras eram utilizadas apenas como tentos para marcar jogos de gamão.
O antigo município de Minas Novas (Vila do Fanado), que compreende o território onde se localizam todos os municípios do Vale do Mucuri e a maioria dos municípios do Vale do Jequitinhonha, é considerado como uma das maiores províncias minerais do mundo, com uma enorme variedade de elementos raros e valiosos, dentre eles alguns muito pouco conhecidos como o urânio, o lítio, o wolfrand, o silício, o tungstênio e o antimônio, alem do diamante (minas novas?), ouro e pedras coradas de grande importância econômica e cientifica, na industria bélica, de instrumentos ópticos, de aparelhos de precisão e na joalharia.
Está comprovada a ocorrência, na região do Ribeirão do Meio, Forquilha e do Bonsucesso, onde permite-se exploração econômica ainda não viabilizada, de calcita (caulim), florita e talco (minerais largamente utilizados na indústria farmacêutica e de cosméticos), de barita (bário, utilizado em material fotográfico), na região de Jacu, Rubim e Debaixo da Lapa, monazitas (bório, ítrio, etc) nas Mangabeiras, Pimenteiras e Ribeirão da Folha, rochas de itabirito (ferro) na região do Cansanção e Capivari,, de quartzos (para cerâmica branca e vidros) em quase todo o município) e silicato de berilio (crisoberilo “olho de gato”, safiras escuras, esmeraldas, malacacheta, etc.) na região do Gonçalo – Caieiras - Olaria – Córrego das Almas.
TEOPHILLO BENEDICTO OTONNI
Nasceu na cidade do Serro, em 17.11.1807 e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 17.10.1869, vitimado por prolongada enfermidade de malária, contraída na região do Rio Mucuri; estava, então, no exercício do cargo de Senador da República, após ter sido eleito e indicado pela quinta vez, para a mesma função e sem ter sido reconhecido, das vezes anteriores, pelo poder monárquico, de vez que era um dos seus mais ferrenhos oposicionistas na corte, defensor do liberalismo e do regime republicano.
Iniciou sua carreira política como Deputado Provincial de Minas Gerais, na Segunda legislatura (1838-1839), conforme registrou o historiador João Camilo de Oliveira Torres (“in” História de Minas Gerais – pag. 1294 e 1295 – vol. Nr. 5 da 2ª edição).
REVOLUÇÃO LIBERAL –
Em 1842, disfarçado com o nome de “Dr. Magalhães” e portando documentos falsos, participou de um intenso tiroteio com as tropas comandadas por Luiz Alves de Lima e Silva (Caxias), no combate verificado na cidade de Santa Luzia (MG), onde esperava reforços que seriam enviados pelo comandante David Carabarro, um dos líderes da Guerra dos Farrapos, os quais não chegaram, resultando daí a sua derrota e sua prisão como um dos principais responsáveis pela revolução armada. Esta revolução foi motivada pelo inconformismo dos liberais, que não aceitavam como legítima a coroação de Dom Pedro II e defendiam a implantação de um regime republicano.
Foi levado acorrentado, e a pé, de Santa Luzia até Ouro Preto e dali foi enviado para o “degredo” que foi cumprido em um sítio próximo à cidade de Minas Novas, onde permaneceu confinado até o ano de 1848, quando foi julgado e absolvido.
Neste período, devido seu brilhantismo como advogado militante no Termo Judicial recentemente criado, e de suas cartas que dirigia ao Governo (com o pseudônimo de “Magalhães”), em que elogiava a postura exemplar do Duque de Caxias, seu vencedor, deste mereceu reconhecimento como um influente líder e dele recebeu incentivos no sentido de desenvolver ações em benefício do desenvolvimento regional, período esse em que idealizou a fundação de uma Companhia de Mineração da Região do Fanado e outra de Navegação e de Exploração Comercial do Rio Mucuri, que julgava ser navegável a partir de Santa Clara (hoje Nanuque), tendo construído a primeira rodovia carroçável do Brasil, com mais de 300 km. e pela qual foi possível transitar as caravanas que viabilizaram o desenvolvimento dos distritos de Mucuri e Urucu (hoje Carlos Chagas), impulsionando o progresso de Nova Filadélfia, hoje Teófilo Otoni. Mesmo depois de conquistada a liberdade e a simpatia do Duque de Caxias, continuou divergindo-se da monarquia e, no Senado, jamais se posicionou como súdito do Imperador, negando-se a prestar-lhes as honras como chefe de estado e de beijar-lhes as mãos como era de costume fazê-lo os seus pares do legislativo.
Devido a seus princípios liberais, contrários ao regime monárquico vigente, não obteve muito sucesso na aprovação de muitos de seus projetos de desenvolvimento, para os quais lhe foram negados os financiamentos e as liberações dos recursos necessários, tendo, contudo, devido a suas fortes ligações com diplomatas influentes, como o Montezuma, e de investidores estrangeiros que demandavam ao Brasil, obteve êxitos consideráveis atraindo o interesse de colonos europeus, principalmente germânicos, que se instalaram na região do Mucuri e que deram continuidade a seu sonho desenvolvimentista.
O confinamento do liberal Teófilo Otoni, para o degredo no termo de Minas Novas, explica-se pelo fato de que o referido político, apesar de sua oposição ao regime monárquico, nele contava com a simpatia de várias autoridades graduadas que sabiam que naquela cidade ele encontraria ambiente favorável para desenvolver seus projetos a favor do movimento abolicionista, indigianista e de desenvolvimento econômico através da implantação de sua acalentada “colônia”. Nesse sentido é importante citar a influência de Guido Marlieri, do Visconde do Jequitinhonha (Montezuma) e do próprio Duque de Caxias, que se tornou um seu aliado e incentivador.
O termo de Minas Novas havia sido desmembrado da comarca de Serro e a figura do liberal seria de grande importância para a organização judiciária daquela região que, desde muito tempo, ressentia-se da alternância administrativa que lhe inviabilizava o progresso, apesar de que, esta preocupação já se revelava bissexta em virtude do esvaziamento motivado pela exaustão das lavras de ouro e do empobrecimento da cultura do algodão, já uma região em adiantado declínio político e econômico.
Em Minas Novas, o “Dr. Magalhães”, que na realidade era o liberal Theophillo Otonni, que ali cumprira seu degredo, já anistiado, foi advogado, professor e comerciante.
Fundou, ali, a sua Loja Maçônica “Nova Philladelphia”, que foi transferida, logo depois, em 1862, para o distrito de Filadélfia, às vésperas de sua emancipação como cidade de Teófilo Otoni.
O BODE DA MAÇONARIA –
Com a transferência do “Dr. Magalhães”, levando para o Mucuri o seu estabelecimento comercial, sua banca de advogado e sua loja maçônica, iniciou-se uma verdadeira corrida que culminou, pouco tempo depois, com o completo esvaziamento da cidade de Minas Novas e o conseqüente “inchaço” do distrito de Filadélfia, para onde se mudaram, também, os principais comerciantes, fazendeiros, artesãos, oficiais e profissionais liberais.
Segundo a crônica popular, a antiga Vila do Fanado ficou como uma cidade fantasma onde perambulavam os mendigos e os loucos que ficaram abandonados, além de muitos dos animais que se negaram a acompanhar os antigos proprietários, rumo à “terra prometida” de Todos os Santos e do Mucuri.
Dentre aqueles animais insubmissos, ficou da “arribada” um curioso bodogô, que por muitos anos foi mascote dos maçons, como era de costume haver um, daquela espécie, para os ritos da Fraternidade, o qual não se deixou levar, de forma alguma, para o novo endereço e tendo ficado ele, solto pelas cercanias do Fanado, onde passou a imperar como requisitado reprodutor. Passando-se o tempo, o velho bode já não contava com o vigor necessário para atender à imensa população caprina, que de forma mais intensa exigia-lhe empenho e lhe apertava o assédio. Vendo-se acuado, certo dia, diante de uma enorme fila de fêmeas que aguardavam sua vez, ele se apavorou e, procurando fugir daquele aperto, subiu no telhado da Fazenda do Mirante e, dali,, alcançou a torre da igreja, tendo sempre no seu encalço a multidão de cabras no cio, não lhe sobrando outra alternativa senão a de se precipitar sobre os lajedos do Córrego Manoel Luiz, onde teve morte trágica.
Daí a fama, ainda hoje, do histórico “Bode de Minas Novas”.
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(Fontes> Rubens Leite, Olympia Araújo, João Elisiário, Miné Cristianismo, Monsenhor Otaviano, Manoel Magalhães, Lilia Mideldorff, Panjiru e Victor Nery.)
O OURO DOS CRISTIANISMOS
No início do século 20 a pobreza do Vale já estava completa com o esvaziamento da região, o que foi agravado, ainda mais, com os períodos seguidos de seca que se arrastaram, em ciclos, até 1929 e devastou o norte-nordeste de Minas e quase toda a Bahia. A violenta crise obrigou a população a voltar aos antigos garimpos, revirando novamente os leitos já exauridos dos rios e córregos secos e os desmontes das antigas minas e lavras. Em toda a região era visível o estado calamitoso das multidões de famintos e de pedintes.
As cidades se esvaziaram por completo e a população procurava as margens do Jequitinhonha, do Araçuai e alguns dos afluentes deste, onde, além de ficarem próximos da água, podiam eventualmente conseguir um pouco de ouro, através do processo de lavagem em bateias. Em Minas Novas os garimpos foram reabertos e tanto o Fanado como o Bonsucesso tiveram suas margens ocupadas por aventureiros vindos de toda parte, invadindo terrenos particulares e abrindo crateras por toda a parte. Houve intervenção das autoridades, visando conter as desavenças e também para evitar os riscos a que se submetiam, tanto pela precariedade dos meios utilizados, como pela falta de experiência naquele trabalho que já estava quase em desuso por parte da maior parte dos aventureiros.
O certo, porém, é que o último recurso era o garimpo do ouro. No início de 1930, finalmente, verificou-se um temporal e várias lavras de cristal foram descobertas, mas essas pedras só começaram a ter algum valor econômico depois de deflagrada a Segunda Guerra Mundial, quando se intensificou sua utilização na indústria bélica, a exemplo da mica (malacacheta) e da borracha que, nesta região, também passou a ser explorada com a extração precária do látex das mangabeiras. Mesmo assim, o garimpo do ouro continuou sendo explorado, principalmente no sítio do Bau e no Córrego do Indaiá (Baixa Quente), onde os proprietários dessas terras liberaram a exploração, não se importando com os danos ambientais dela decorrentes, compadecidos pelo estado de necessidade dos que ali iam buscar o sustento de suas famílias. Nos demais locais, em qualquer outra parte do Fanado e do Bonsucesso o garimpo estava sob o controle do chefe político local, só podendo neles garimpar quem tivesse autorização expressa do Dr. Chico Badaró.
Os tempos eram de ditadura e tudo servia de pretexto para colocar-se a população sobre rigoroso controle, obtendo-se, naquela situação extrema, os dividendos dos quais não abrem mãos os opressores e os aproveitadores das mazelas humanas, muitas das vezes chegando esses tiranos, chegando-se a ponto de tripudiarem sobre os infelizes, que eram seus desafetos por questões de antigas disputas eleitorais, ou por simples picuinhas de adversários políticos. Os efeitos dos duros tempos da seca ainda eram permanentes.
O sofrimento agravava-se mais e mais.
Nessa época havia na cidade um homem que, em tempo algum, em razão de suas convicções pessoais, pelo seu temperamento respeitoso e pacato, jamais havia manifestado suas preferências políticas, tendo procurando, sempre firme e alerta, manter-se longe das disputas eleitorais, conservando a sua neutralidade e preservando um cordial convívio com todos os habitantes do lugar, até porque, sendo numerosos os seus filhos, acreditava que o melhor para si e para eles era não tomarem partido a favor ou contra de quem quer que fosse.
Tinham, ele e os filhos, por profissão, o ofício de ferreiros, como era da tradição que já vinha desde seus distantes antepassados, por diversas gerações, só que nesse ramo de trabalho, como de resto a todos os outros exercidos honestamente por outros oficiais e artesãos do lugar, não estava proporcionando-lhe rendimentos nem mesmo suficientes para a aquisição dos gêneros de primeiríssima necessidade, como os alimentos para a enorme prole.
Premido pela situação, e não encontrando outro caminho, resolveu procurar o chefe político para conseguir-lhe um alvará que o autorizasse, junto dos seus familiares, de uma faixa do rio onde pudessem garimpar. O pleito lhe fora negado, pois a neutralidade de um eleitor era entendida, pelo Dr. Chico, como uma postura de desobediência, dentro desse princípio autoritário de que, quem não é a favor, automaticamente estaria contra, e nessa condição de “adversário”, também não poderia pleitear e nem receber os benefícios do seu poder. Contudo, estava ali, a oportunidade do rancoroso mandatário de humilhar aquele pobre pai de família, honesto e trabalhador, mas que era um “neutro”, um “arrogante”, “um atrevido”, somente por ser uma pessoa indiferente ao partido do coronel, embora nunca ter
E o alcaide, para não deixar passar em branco aquela oportunidade de “enquadrar” o postulante a garimpeiro, encaminhou-o, junto dos filhos, não ao serviço que pleiteavam, mas ao serviço de limpeza pública, com a intenção de espezinhá-los, humilhá-los, designando-os para aquele trabalho árduo de capinar as pedregosas ruas, becos e morros da cidade, para expô-los à comiseração popular.
E era comovente de ser ver, aquele homem, simples, mas de caráter ilibado e de boa índole, ali, debaixo de sol e de chuva, junto com seus inúmeros filhos, naquele trabalho tão primário para quem estava afeito a ofícios mais primorosos de fundição, de torneamento, de artífice e de armeiro, obrigado pela falta de opções de trabalho, arrancando com as mãos, sem o emprego de ferramentas, os carrapichos, os nardos, os marotos, as malvas e as gramas que brotavam entre as pedras do calçamento e dos barrancos pedregosos das vias públicas, como forma de conseguir algum recurso honesto para a sobrevivência do seu inocente grupo familiar.
Contudo, resignados com aquele trabalho humilde, para o qual foram encaminhados com a finalidade de servir-lhes como punição, procuravam eles executá-lo com a presteza e a forma correta, dentro do que seria a expectativa do empregador, evitando dar-lhe margem para qualquer oportunidade de reclamação.